15 de out. de 2010

Dai-me algumas palavras...


Dai-me algumas palavras,
- porém, somente algumas! –
que às vezes apetece,
pelos jardins da areia,
colher flores de espuma.


Deixai, deixai, secreto,
o silencio que dorme
ás portas da minha alma,
guardando os labirintos
e as esfinges enormes.


(O silencio caído
com seus firmes oceanos
- onde não há mais nada
dos litorais do mundo
nem do périplo humano!



Cecília Meireles
In: Canções (1956)

Ó peso do coração!


Ó peso do coração!
Na grande noite da vida,
teus pesares que serão?


A sorte amadurecida
resplandece em minha mão:
lúcida, clara, polida.


Nem saudade nem paixão
nem morte nem despedida
seu brilho escurecerão.


Na grande noite da vida
brilha a sorte. O coração,
porém, é a dor desmedida.


Maior que a sorte e que a vida...



Cecília Meireles
In: Canções (1956)

Virgem, no teu coração...


Virgem, no teu coração,
sete espadas encontrei.
Sete vezes sete são
as minhas, segundo a Lei.


(Sangue que corres, por quem
minhas veias deixarás?
Morre-se só. E a ninguém
com o morrer se deixa em paz!)


Num cego mundo sem fim,
é bem que se morra só.
Virgem, lembra-te de mim,
deste meu misero pó,


que foi coração também,
todo recortado de ais,
e já nem espaço tem
para outras espadas mais!


Virgem, no teu coração,
sete espadas enconteri.
Pelas tuas, chorarão.
Pelas minhas, não chorei.



Cecília Meireles
In: Canções (1956)
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