Abri na noite as grandes águas
Criadas no tempo de chorar.
Levantei os mortos do sonho
Que trouxestes para viajar.
Fechai os olhos, despedi-vos,
Atirai os mortos ao mar!
Por amor às vossas estrelas,
Chamai ventos de solidão.
Em voz alta, dizei responsos,
Descarregai o coração!
Aos mortos que descem nas águas,
Mandai amor, pedi perdão!
Fazei-vos marinheiros límpidos,
Isentos do bem e do mal.
Dizei que, à procura dos deuses,
Com um rumo sobrenatural,
Necessitais da despedida
De toda lembrança mortal.
Ide, com o esbelto movimento,
A graça da libertação,
À proa das naves solenes
Que os deuses vos transportarão.
Mas não fiteis a densa vaga
Que se arquear em redor de vós!
- O rosto dos mortos flutua
para sempre. E é um longo cometa
a aérea franja da sua voz.
Cecília Meireles
In Retrato Natural
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