Seja bem-vindo. Hoje é
15 de abr. de 2009
Improviso para Norman Fraser
O músico a meu lado come
o pequeno peixe prateado
Percorre-lhe a pele brilhante
abre-a, leve, de lado a lado.
Úmido deus de água e alabastro,
aparece o peixe despido.
E, como os deuses, pouco a pouco,
vai sendo pelo homem destruído.
Ah, mas que delicado culto,
que elegante, harmonioso trato
se pode dispensar a um peixe
como um deus exposto num prato!
Vinde ver, tiranos do mundo,
esta suprema gentileza
de comer! – que deixa perdoado
o gume da faca na mesa!
Em sua pele cintilante,
nítido, fino, íntegro, certo,
jaz o peixe, - ramo de espinhos
musicalmente descoberto.
Ó fim venturoso! Invejai-o,
corais,anêmonas, medusas!
Vede como era, além da carne,
frase secreta, em semifusas!
Cecília Meireles
Flor de Poemas,1972
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