17 de mai. de 2009


Minha primeira lágrima caiu dentro dos teus olhos.
Tive medo de a enxugar: para não saberes que havia caído.

No dia seguinte, estavas imóvel, na tua forma definitiva,
modelada pela noite, pelas estrelas, pelas, minhas mãos.

Exalava-se de ti o mesmo frio do orvalho; a mesma
claridade da lua.

Vi aquele dia levantar-se inutilmente para as tuas
pálpebras, e a voz dos pássaros e das águas correr
-sem que a recolhessem teus ouvidos inertes.

Onde ficou teu outro corpo? Na parede? Nos imóveis?
no teto?

Inclinei-me sobre o teu rosto, absoluta, como um espelho,
E tristemente te procurava.

Mas também isso foi inútil, como tudo mais.



Cecilia Meireles
In: Elegia 1933-1937

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