
Minha primeira lágrima caiu dentro dos teus olhos.
Tive medo de a enxugar: para não saberes que havia caído.
No dia seguinte, estavas imóvel, na tua forma definitiva,
modelada pela noite, pelas estrelas, pelas, minhas mãos.
Exalava-se de ti o mesmo frio do orvalho; a mesma
claridade da lua.
Vi aquele dia levantar-se inutilmente para as tuas
pálpebras, e a voz dos pássaros e das águas correr
-sem que a recolhessem teus ouvidos inertes.
Onde ficou teu outro corpo? Na parede? Nos imóveis?
no teto?
Inclinei-me sobre o teu rosto, absoluta, como um espelho,
E tristemente te procurava.
Mas também isso foi inútil, como tudo mais.
Cecilia Meireles
In: Elegia 1933-1937
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Muito grata por seu comentário, ele é muito importante para nós!