29 de mai. de 2009

Noite no Rio



Barqueiro do Douro,
tão largo é teu rio,
tão velho é teu barco,
tão velho e sombrio
teu grave cantar!

Barqueiro do Douro,
a noite vai alta,
– por onde perdeste
o braço que falta,
barqueiro do Douro,
que tem de remar!

Barqueiro do Douro,
já não alumia
tão baça candeia,
nesta névoa fria...
A água entra nas tábuas
e escorre a chorar...

Barqueiro do Douro,
aonde chegaremos ?
Já não enxergamos
estrela nem remos,
nem margens, nem sombra
de nenhum lugar...

(Seu remo batia,
sua voz cantava.
Não me respondia.
Remava, remava.

A água parecia
mais negra que a noite,
mais longa que o mar!)

Cecília Meireles
in: Mar Absoluto

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