29 de jun. de 2009

SENSITIVA



No cedro e na rosa,
o gesto da brisa.
De joelhos, na noite,
colhíamos juntos
a sensitiva.

Teu lábio formava
uma lua fina.
Mas tua figura,
na sombra, a – a folhagem
muda bebia.

Junto à áspera terra,
tua mão e a minha
se encontraram sob
o pânico súbito
da sensitiva.

Que espasmo de nácar
pela seiva aflita!
Nem rosa nem cedro
souberam da ausência
da sensitiva.

Aonde levaremos
esta dolorida
planta frágil, se
tua mão se apaga
em lírio e cinza?

Se teu rosto esparso
já não se adivinha,
e teu lábio é, agora,
na manhã que chega,
puro enigma?

Voa dos meus olhos
a noite vivida.
Na areia dos sonhos,
somente o desenho
da sensitiva.


Cecília Meireles
in Mar Absoluto

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