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16 de ago. de 2009

Canção Desilusória



Já não se pode mais falar!...
O encantamento está perdido...
Tudo são frases sem sentido
e as palavras dispersas no ar...
O encantamento está perdido!...
Já não se pode mais falar...

Já não se pode mais sonhar!...
Em vão se canta ou se deplora!
Todos os sonhos são de outrora...
Vêm de um sonho preliminar...
Em vão se canta ou se deplora...
Já não se pode mais sonhar!...

Já não se pode mais amar!...
Oh! soturna monotonia...
A saudade e a melancolia
são de todo tempo e lugar!
Oh! soturna monotonia!...
Já não se pode mais amar...

Já não se pode mais findar!
Numa interminável miséria,
depois do opróbrio da matéria,
surge o castigo do avatar!
Numa interminável miséria...
Já não se pode mais findar!...

Já não se pode mais chorar!
É o destino...o Alfa-Ômega... a Sorte...
É melhor não pensar na morte,
ao sentir a vida passar...
É o destino...o Alfa-Ômega... a Sorte...
E só nos resta renunciar!...


Cecília Meireles
in: Nunca Mais -1923-
(p. 37,38)
*Rio de Janeiro: A Grande Livraria Leite Ribeiro, [1923]
(Ilustração de Fernando Correia Dias, original no livro)

2 comentários:

  1. Minha amiga Marga, o blog está maravilhoso! Cecília é, para mim, a poetisa maior, imbatível dentre todas as outras do mundo inteiro. Beijinhos.

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  2. Obrigada por compartilhar esses poemas, há tempos tentava encontrar Canção Desilusória e nada tinha na internet.
    Um terno abraço!

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