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19 de ago. de 2009
TEMPO VIAJADO
DOS MEUS RETRATOS rasgados
Me recomponho,
Com minhas espumas de acaso,
Meus solos vivos de fogo.
Muito se sofre.
As doces uvas sabem a enxofre.
Vulcões mordem as raízes
Das minhas plantas.
Em barcos postos a pique,
Naufragaram minhas lembranças.
Dizei-me por que lugares
Que pastores pastoreiam
Até sempre estas saudades
A mim mesmo tão alheias.
Muito se pena.
E vimos na areia morrer a sirena.
Procuro pelo meu rosto
O tempo que se desprende.
Que agulhas de desencontro
Separaram minha gente?
Dos meus retratos rasgados
Me levanto.
E acho-me toda em pedaços,
E assim mesmo vou cantando.
Muito se perde:
Pela terra negra ou pela água verde.
(Se Deus agora me visse,
abaixaria seus olhos
e ficaria mais triste.)
Cecília Meireles
In Retrato Natural
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