
(Pierre-Augustin Caron de Beaumarchais, Paris -1732-1799)
(Lendo Beaumarchais)
Noite fresca e serena. Aberta a gelosia
Do florido balcão, numa penumbra leve,
Dorme a câmara avoenga. O vulto a um canto amplia
O velho cravo mudo. O luar Poe tons de neve
No embutido do assoalho, em que a sombra descreve,
Larga e aconchegadora, a poltrona macia,
Onde sonha, esquecida, uma guitarra breve
O seu sonho eternal de amor e melodia.
Há um perfume no ambiente – um perfume de outrora,
Muito vago, a lembrar todo um passado morto...
... E é quando no silencio um largo acorde chora,
e sente-se fremir, numa estranha dolência,
sob o esplendido céu, calmo, profundo, absorto,
a alma de Querubim, na ansiosa adolescência...
Cecília Meireles
In: Espectros
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