21 de set. de 2009

Evocação


(Pierre-Augustin Caron de Beaumarchais, Paris -1732-1799)

(Lendo Beaumarchais)


Noite fresca e serena. Aberta a gelosia
Do florido balcão, numa penumbra leve,
Dorme a câmara avoenga. O vulto a um canto amplia
O velho cravo mudo. O luar Poe tons de neve


No embutido do assoalho, em que a sombra descreve,
Larga e aconchegadora, a poltrona macia,
Onde sonha, esquecida, uma guitarra breve
O seu sonho eternal de amor e melodia.


Há um perfume no ambiente – um perfume de outrora,
Muito vago, a lembrar todo um passado morto...
... E é quando no silencio um largo acorde chora,


e sente-se fremir, numa estranha dolência,
sob o esplendido céu, calmo, profundo, absorto,
a alma de Querubim, na ansiosa adolescência...



Cecília Meireles
In: Espectros

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