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10 de fev. de 2010

A noite



A noite é essa escuridão tão envolvente
que aparece um exercício de morte:
assim vai desaparecendo tudo,
assim desaparecemos dos outros
e de nós.


Apenas respiramos.
Podem cortar esse ultimo fio
- e o tear que somos se imobiliza.


A noite esconde a terra, o céu, a casa,
os vossos rostos.


Estou novamente dentro de uma entranha?
Humana? Cósmica? Em que entranha me aninho,
onde se enrola o novelo da minha memória,
em que cofre, na escuridão?


Nossas asas estão docemente fechadas
e nossos olhos moram no pensamento.


Cada um tem a sua noite.
Cada coisa.
E tudo está na sua noite,
enquanto é noite.


O dia é um bailarino com sinos e espelhos.


Interrompemos a treva onde aprendíamos lembranças;
e somos de repente uns falsos acordados.

1960



Cecília Meireles
In: O Estudante Empírico (1959-1964)

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