A nuvem negra
é uma outra noite precoce
que chega do Oeste.
As mães chamam pelos filhos
exatamente como se aquela sombra
fosse um exército inimigo.
Os pássaros fogem
por todos os lados
e os jasmins deixam cair
suas brancas estrelas
ao vento que frisa
a água verde do tanque.
As margaridas inclinam-se
tontas, tontas.
Cai uma chuva alegre,
que não apaga o trinar dos pássaros.
O tijolo bebe cada gota,
instantaneamente.
Esta é uma chuva
das que trazem colar de arco-íris.
Esta é uma chuva
dançarina de cristal.
Mas, de repente, o trovão fala, severamente.
E tudo presta atenção.
A nuvem negra
chega do Oeste
e é como a noite,
em plena tarde,
no meu jardim.
E o vento desce
nas margaridas,
e se arredonda
entre as mangueiras
e se desfolha
na leve sebe
e é verde e branco.
9.1.1957
Cecília Meireles
In: Poesia Completa
Dispersos (1918-1964)
Sou completamente apaixonada por este espaço que é tão bem trabalhado.
ResponderExcluirParabéns. Venho sempre por aqui!!!
Muito grata Malu, muito nos honra sua amável presença.
ExcluirGrande Abraço
Maria Madalena