10 de abr. de 2014

Das avozinhas mortas



As avozinhas acordaram
Porque eu chorei, no meu violino,
Um morto amor que elas choraram...

Na meia-noite do destino,
As avozinhas acordaram...

As ultima arcada era tão triste
Que os meus olhos se emocionaram...
Coisas tão longe do que existe!

E as avozinhas recordaram
Todo um passado ausente e triste...

As avozinhas murmuraram
Frases antigas como lendas...
Frases, decerto, que escutaram

Entre jóias, leques e rendas...
As avozinhas murmuraram...

De alma, porém, desiludida,
Os olhos úmidos fecharam...
E, no ermo sonho da outra vida,

As avozinhas continuaram
A partitura interrompida... 



Cecília Meireles
In: Baladas para El-Rei (1925)

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