A Onestaldo de Pennafort
Não me digam quem é
a dona que toca
por detrás da manhã
quase noite ainda
nesta franja de luar
do velho teclado
caminho de marfim
de pálidas Musas.
Ó Mozart de cristal
desfolhado à brisa
de orvalho e jasmim!
Cavalos tranqüilos
mascam trevos de som,
hastes de sustenidos
e fieiras de grãos
negros de semifusas.
Bebem a água do ar
E levantam nos olhos
as ruas do céu.
Não me digam quem é
a dona da sombra
imperativa e irreal.
Deixai que a cidade
encontre ao despertar
o passaro claro
que vem de suas mãos
e das nuvens à terra
abre asas de luz
e suspende em seu canto
a áurea rosa do sol.
Cecília Meireles
In: Poesia Completa
Dispersos (1918-1964)
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