O mercador dizia-me que as perolas deste colar
levaram dez anos a ser reunidas.
Pequenas perolas
– de que mares?
– de que conchas?
– menores que lagrimas, apenas maiores que grãos
de areia, transpiração das flores.
Talvez o mercador mentisse. Mas a própria mentira
não perturbava a beleza das perolas.
E eu via dez anos, de mar em mar, em muitas mãos,
escuras e magras, sob longos olhares pacientes,
aquele pequeno orvalho medido, perfurado, enfiado
para uma criatura de muito longe, desconhecida
e inesperada, que um dia tinha de recebê-las aqui.
Maio, 1954
Cecília Meireles
In: Poesia Completa
Dispersos (1918-1964)
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