A Rodrigo M.F. de Andrade
Quem é a dona que toca?
Fechei os olhos, não vi.
Que nunca se abra a cortina
quando eu passar por aqui.
Sonho seus longos cabelos
como harpa, na escuridão;
seus olhos de prata, esquivos,
e uma perola nublosa
no nácar de sua mão.
O que a dona vai tocando?
Que importa? Seja o que for.
Tudo aqui fora á saudade.
Lá dentro, seria amor.
O piano que a dona toca,
de onde, de que tempo vem?
E o que eu penso, enquanto a escuto,
ela o pensará também?
Cecília Meireles
In: Poesia Completa
Dispersos (1918-1964)
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