Seja bem-vindo. Hoje é
24 de abr. de 2009
Auto_Retrato
Se me contemplo
tantas me vejo,
que não entendo
quem sou, no tempo
do pensamento.
Vou desprendendo
elos que tenho,
alças, enredos...
Formas, desenho
que tive, e esqueço!
Falas, desejo
e movimento
— a que tremendo,
vago segredo
ides, sem medo?!
Sombras conheço:
não lhes ordeno.
Como precedo
meu sonho inteiro,
e após me perco,
sem mais governo?!
Nem me lamento
nem esmoreço:
no meu silêncio
há esforço e gênio
e suave exemplo
de mais silêncio.
Não permaneço.
Cada momento
é meu e alheio.
Meu sangue deixo,
breve e surpreso,
em cada veio
semeado e isento.
Meu campo, afeito
à mão do vento,
é alto e sereno:
Amor. Desprezo.
Assim compreendo
o meu perfeito
acabamento.
Múltipla, venço
este tormento
do mundo eterno
que em mim carrego:
e, una, contemplo
o jogo inquieto
em que padeço.
E recupero
o meu alento
e assim vou sendo.
Ah, como dentro
de um prisioneiro
há espaço e jeito
para esse apego
a um deus supremo,
e o acerbo intento
do seu concerto
com a morte, o erro...
( voltas do tempo
— sabido e aceito —
do seu desterro...)
Cecília Meireles
in Mar absoluto e outros poemas-1945-
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Seja bem-vindo. Hoje é
Madalena e Regina... Que lindo está o blog!
ResponderExcluirTudo sintonizado... as poesias, as imagens que as simbolizam e representam, a música!
Tudo parece estar em perfeita harmonia e me lembram muito o que penso sobre Cecília!
Encanta-me e espanta-me a poesia dessa maravihosa escritora e vocês estão de parabéns por trazer um pouco dela para esse cantinho lindo!
Estarei sempre aqui com certeza, alimentando minha alma com tanta beleza!