
Não te acabarás Evelyn
As rochas que te viram são negras, entre espumas finas
Sobre elas giram lisas gaivotas delicadas,
E ao longe as águas verdes revolvem seus jardins de vidro
Não te acabarás Evelyn
Guardei o vento que tocava
A harpa dos teus cabelos verticais,
E teus olhos estão aqui e são conchas brancas,
Docemente fechados, como se vê nas estátuas
Guardei teu lábio de coral róseo
E teus dedos de coral branco
E estás para sempre, como naquele dia
Comendo, vagarosa, fibras elásticas de crustáceos
Mirando a tarde e o silêncio
E a espuma que te orvalhava os pés
Não te acabarás Evelyn
Eu te farei aparecer entre as escarpas
Sereia, serena
E os que não te viram procurarão por ti
Que eras tão bela e nem falaste
Evelyn – disseram-me,
Apontando-te entre as barcas
E eras igual a meu destino
Evelyn – entre a água e o céu
Evelyn – entre a água e a terra
Evelyn – sozinha
Entre os homens e Deus.
Cecília Meireles
in: Mar Absoluto
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