7 de mai. de 2009

Saio do sonho, da noite, do absurdo



Saio do sonho, da noite, do absurdo:
sou navegante que aborda o limite humano,
espuma breve
Meus vestidos são de uma tristeza total:
de frágil superfície ao denso forro,
profundo mar.
Pergunto-me por que venho
e por que venho assim vestida:
- é dos lugares do sonho, da noite, do absurdo?
- é do limite humano a que abordo,
séria e inerme?
Entre os dias humanos
e a noite ex-humana
que mensageiro acaso somos?
A que destinatários?
em que linguagem?
que mensagem?
Ó noite, ó sonhos, ó absurdo
onde, no entanto, fluíamos, claríssimos!


Cecília Meireles
In Poesia Completa, 1994

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