Quem toca piano sobre a chuva,
na tarde turva e despovoada?
De que antiga, límpida música
recebo a lembrança apagada?
Minha vida, numa poltrona
jaz diante da janela aberta.
Vejo árvores, nuvens, - é a longa
rota do tempo, descoberta.
Entre os meus olhos descansados
e os meus descansados ouvidos,
alguém colhe com dedos calmos
ramos de som,descoloridos.
A chuva interfere na música.
Tocam tão longe! O turvo dia
mistura piano, árvore, nuvens,
séculos de melancolia...
Cecília Meireles
In Flor de Poemas, 1972
Que blog lindo e delicado!!! Pousei aqui procurando este poema da Cecília, sobre o piano... e que agradável surpresa! Deixo abraços alados e leves.
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