3 de jun. de 2009

Constância do deserto



Em praias de indiferença
navega o meu coração.
Venho desde a adolescência
na mesma navegação.
-- Por que mar de tanta ausência,
e areias brancas de tão
despovoada inconsistência,
de penúria e de aflição?

(Triste saudade que pensa
entre a resposta e a intenção!)
Números de grande urgência
gritam pela exatidão:
mas a areia branca e imensa
toda é desagregação!

Em praias de indiferença
navega meu coração.
Impossível, permanência.
Impossível, direção.
E assim por toda e existência
navegar navegarão
os que têm por toda ciência
desencanto e devoção.

Cecília Meireles
in Mar Absoluto

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