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20 de dez. de 2009
Poemas
I
Edifica-te:
Longe,
Silencioso,
Só,
Edifica-te admirável,
Com altitudes imensas,
E, para além da humanidade,
Sê grandioso, excessivamente...
Cresce sempre,
Como uma arvore de eterna vida...
Escapa ao que atinge a todos.
Constrói-te para um tempo sem fim,
Que nunca te termine,
Ainda que morras todos os dias!
Sê o infindável,
Feito de renascenças sem termo...
Para lá das amarguras humanas,
Sê o que ficará para consolo e exemplo dos que vierem,
E cujo nome será,
Na terra triste,
Benção imortal para tudo o que vive!...
II
Quando olho para tudo isto que antes foi terra nua,
E que o vento semeou,
Barbaramente,
E que hoje é mata indômita,
Mar negro e farfalhante,
E cheio de feras sombrias,
Fico pensando em mim...
Eu fui à terra fecunda
Onde tudo que o destino deixou cair
Teve força de vida crescente
E poder criador de se multiplicar...
Eu fui à terra nua de uma idade sem data.
E as minhas arvores têm medidas que não param,
Crescendo sempre pelas raízes e pelas frondes...
Mas dentro da minha sombra nunca deslizaram as ferras...
E as próprias arvores de espinhos
Tiveram sempre
Ou resinas consoladoras
Ou frutos doces...
Cecília Meireles
In: Poesia Completa
Dispersos (1918-1964)
(POESIA COMPLETA, organização Antonio Carlos Secchin (2 volumes) Editora Nova Fronteira 2001.)
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