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22 de jul. de 2010

"II"


Vi descer a tempestade,
Sabiá,
sobre nuvens tenebrosas.
Os homens, soltos, corriam,
Sabiá...
(De onde lhes vem tal pavor?)
- Presas morriam as rosas,
em seu destino de flor.


Nessa densa tarde escura,
Sabiá,
entre as batalhas do vento,
escutei pela montanha
tua voz tranqüila e pura,
Sabiá,
- perfeita imagem do amor
em cristal de pensamento:
grande, claro e sofredor.


Debrucei-me no ar selvagem,
Sabiá,
para ouvi-la, tão serena,
sem medo do fim do mundo,
proclamar sua mensagem,
Sabiá.


Levarei para onde for
dois perfis da mesma pena:
meu silencio, teu clamor.



Cecília Meireles
In: Canções (1956) – Ciclo do Sabiá

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