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22 de jul. de 2010

"I"


Não me adianta dizer nada,
Sabiá,
porque não nos entendemos.
Mas essa melancolia
da tua queixosa toada,
Sabiá,
bate no meu coração
como batem n ‘água os remos
que nunca mais voltarão.


O que dizes quando cantas,
Sabiá,
tão bem se ajusta ao que penso,
que mais prefiro escutar-te.
Minhas tristezas são tantas,
Sabiá,
que já nem sei quantas são.
Como é duro, negro, extenso,
o campo da ingratidão!


Não sinto mais no meu peito,
Sabiá,
força para aquele verso
com que outrora me explicava:
e por isso me deleito,
Sabiá,
força para aquele verso
com que outrora me explicava:
e por isso me deleito,
Sabiá,
quando te ouço... Entenderão
os ouvidos do universo
nossa comum solidão?


Cecília Meireles
In: Canções (1956) – Ciclo do Sabiá

2 comentários:

  1. A Música do sabiá soa dócil nos versos.

    L.B.

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  2. Que lindo poema!
    Este eu não conhecia...
    Tão triste parecia estar Cecília ao escrevê-lo! Muitas vezes tenho a impressão que o mote, a inspiração do poeta (do artista, em geral) é justamente a solidão. É esse sentimento que produz a beleza no mundo... e o sofrimento também.

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