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22 de jul. de 2010

"IV"


Já não há mais dias novos,
Sabiá...
O mundo já se acabou.
Não há rios, não há montes,
nem luzes nos horizontes.
Morreram terras e povos,
Sabiá...
(Quem te escutou?)


Plumoso, pequeno, frio,
Sabiá,
teu corpo em que areia jaz?
Que foi mundo, sol e terra,
amor, pensamento, guerra,
morte, coração vazio,
Sabiá?
Não os saberás.


E tu, quem foste, quem eras,
Sabiá,
que não se explica, também?
- Que somos, além dos ossos
e dos terrenos destroços,
e imaginarias quimeras,
Sabiá,
Quem somos? quem?



Cecília Meireles
In: Canções (1956) – Ciclo do Sabiá

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