2 de jun. de 2011

Imagem


Uma pobre velhinha franzida e amarelada
sentou-se num banco, em Paris.
A tarde cinzenta andava atrás dela
como um triste gato de feltro e flanela,
igualmente exausta e infeliz.
Entretanto, aquela cidade, aquela
é a maior do mundo, segundo se diz.
E não só maior – mas alegre e bela:
é a cidade chamada Paris.


Por que há uma velhinha tão triste e amarela
sentada num banco em forma de X?
Nunca vi ninguém mais triste do que ela,
em tarde nenhuma de nenhum país.


Nas mãos, uma chave – de que bairro, viela,
porta, corredor, mansarda, canela? –
com um desenho de flor-de-lis.



Cecília Meireles
In: Poesia Completa
Viagem (1939)

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Muito grata por seu comentário, ele é muito importante para nós!

Seja bem-vindo. Hoje é