Rama das minhas árvores altas,
deixa ir a flor! que o tempo, ao desprendê-la,
roda-a no molde de noites e de albas
onde gira e suspira cada estrela.
Deixa ir a flor! deixa-a ser asa, espaço,
ritmo, desenho, música absoluta,
dando e recuperando o corpo esparso
que, indo e vindo, se observa, e ordena, e escuta.
Falo-te, por saber o que é perder-se.
Conheço o coração da primavera.
e o dom secreto do seu sangue verde,
que num breve perfume existe e espera.
Verti para infinitos desamparos
tudo que tive no meu pensamento.
Era a flor dos instantes amargos.
Por onde anda? No abismo. Dada ao vento...
Cecília Meireles
In Viagem, 1.938
Um dos mais lindos de Cecília. Adoro vir aqui, pois amo Cecília!
ResponderExcluirDe seu pórtico poético, lá onde se a alma fala, a poetisa deixa espargirem-se, numa insólita magia, pelo espaço infinito do seu sentir, de forma tênue e, a um tempo, febril, as vibrações de sua imaginação fecunda, profundamente...
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