Antes da inauguração da biblioteca infantil, no final do ano de 1931, Cecília Meireles iniciou um inquérito pedagógico junto à crianças de 24 escolas públicas do Distrito Federal. Este inquérito constituiu-se num levantamento preciso das preferências de leitura de crianças entre 11 e 14 anos. Era composto de doze perguntas e foi respondido por 933 meninas e 454 meninos do terceiro, quarto e quinto anos primários. Essa investigação permitiu a Cecília Meireles conhecer as prioridades literárias da futura clientela e foi um dos parâmetros que contribuiu para a seleção e constituição do acervo da biblioteca infantil.
A biblioteca foi constituída por nove seções: a primeira seção era a da biblioteca, propriamente dita, que possuía inicialmente 720 obras, constituída de 498 livros didáticos (de leitura, compêndios, manuais, etc.) e 190 fascículos, 222 obras literárias, em prosa e verso, de literatura infantil ou adequada à leitura das crianças, tanto de autores nacionais como traduzidas para o português.
Destas, 310 foram doadas e as 391 restantes foram adquiridas mediante doações de terceiros e da BCE; a segunda seção era a de gravuras, com 2.781 unidades, compreendendo toda documentação gráfica, relativa ao Brasil: história, arte, ciência, trabalho, etc.; a terceira que era a de cartografia, compreendendo globos, mapas do Brasil e dos Estados, do mundo, da América e da cidade do Rio de Janeiro, plantas topográficas, bandeiras, etc.; a quarta, de recortes constituindo 23 álbuns sobre vários assuntos, similares a uma enciclopédia, também responsável pela edição da A Gazetinha, jornal mural, de informação diária; a quinta seção, de selos e moedas, compreendendo coleções, devidamente estudadas e catalogadas, de moedas e selos do Brasil; a sexta, de música e cinema, que possuía um aparelho Pathe Baby, rádio, radiola e discos; a sétima, que previa atividades artísticas como hora do conto, arte dramática, etc.; a oitava, que era a de propaganda e publicidade, responsável por publicações relativas às datas comemorativas e relatórios de atividades da biblioteca e a nona seção, de observações e pesquisas que tinha como objetivo realizar um levantamento diário da preferência de leitura das crianças, bem como captar essas impressões e registrá-las a fim de fornecer material de estudos para os professores e pesquisadores do Departamento de Educação.
Nos primeiros três meses de existência já contava com cerca de 200 leitores, tendo no final de 1937, cerca de 1500 leitores inscritos. O funcionamento se restringia aos horários da manhã e da tarde e as crianças revezavam os seus horários escolares com a freqüência à biblioteca. Os empréstimos se resumiam a um livro apenas, já que o acervo não contava com duplicatas. As crianças ficavam livres para escolherem suas atividades: algumas se dedicavam à leitura, aos jogos silenciosos, enquanto outras se dedicavam à apreciação de programas infantis transmitidos pelo rádio ou a assistir filmes educativos.
A seção de propaganda e publicidade foi responsável pela elaboração de várias publicações relativas às datas cívicas como o Dia do Trabalho e Libertação dos Escravos, bem como de outras em que se homenageava autores brasileiros como Machado de Assis, Castro Alves e Euclides da Cunha. Também editava um relatório trimestral, que fazia parte desta seção, que saía regularmente, a partir da inauguração dos trabalhos da biblioteca, que infelizmente só foi possível encontrar um único exemplar, que trata das instruções para a instalação e funcionamento da biblioteca infantil, no arquivo pessoal de Anísio Teixeira no CPDOC. Quanto ao Boletim da Biblioteca não foi possível encontrar um exemplar sequer.
Como a verba era limitada e havia carência de livros que fizessem a vez de enciclopédias infantis, Cecília idealizou vários álbuns de recortes de revistas, jornais e folhetos de propaganda, obtidos através de doação. Esse material era recortado e selecionado por tema em grandes cadernos que depois eram entregues aos alunos para que realizassem as suas pesquisas escolares. Para as crianças que ainda não sabiam ler, os álbuns se limitavam a conter figuras.
“Agora estou vivamente empenhada em coisas transcendentes. Uma delas é arranjar verba para os serviços da Biblioteca.
Tenho certas tentações de me declarar comunista oficialmente, para ver se arranjo uma subvenção de Moscou... Porque, de outro modo, tudo está obscuro demais, embora para uma fundação lendária, instalada num pavilhão de vidro, e dirigida por uma criatura tão improvável como eu...”
O acervo da biblioteca foi constituído através de doações da própria Cecília, de outros educadores e de editoras, além de contar com verba da própria biblioteca e do repasse de obras feito através da Biblioteca Central de Educação. A biblioteca infantil teve desde o princípio um acolhimento generoso por parte de imprensa e de particulares que ofereceram sua colaboração através de doações.
A primeira oferta recebida foi do editor português Álvaro Pinto, que enviou 140 volumes, dos quais 37 eram de literatura infantil. Correia Dias, marido de Cecília, além da decoração da sala de música e do teatrinho, já referida anteriormente, executou as estantes e doou uma coleção de moedas. A Editora Nacional e a Livraria Francisco Alves colocaram à disposição da biblioteca vários volumes de suas edições infantis.
A biblioteca também recebeu uma coleção de livros, postais e selos portugueses doados pela escritora Ana de Castro Osório, bem como de intelectuais e políticos brasileiros que enviaram coleções de revistas e selos, assinaturas de jornais e revistas brasileiras e estrangeiras, esculturas e pinturas, selos, vasos e mapas. Outros se dispuseram a custear as publicações da Seção de Propaganda e Publicidade.
Em setembro de 1934, Cecília viajou para Portugal onde realizou uma série de conferências, cujos temas debatidos incluíam a reforma educacional de Fernando de Azevedo, a reforma de Anísio Teixeira e a fundação da Biblioteca Infantil, bastante concorridas e que foram publicadas por jornais portugueses e por um periódico da Universidade de Coimbra.
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