Seja bem-vindo. Hoje é
12 de nov. de 2009
Soturna
Olhas o céu, que é a flama azul do olhar de um santo.
Parece, até, que, de tão fluida, a luz é aroma...
E eu, vendo o céu lúcido assim, penso no pranto
De súlfur vivo que escorreu sobre Sodoma...
Olhas os ramos, na opulência e na indolência...
Lembras sazões, pomos, desejos e pecados...
E eu, nesses ramos, sinto a lúgubre cadencia
Da pendular oscilação dos enforcados...
Olhas a terra toda em flor... Falas na gloria
De messidores, de farturas, de celeiros...
Diante da terra, oiço a canção desilusoria
Da ronda triste e sonolenta dos coveiros...
Olhas o mar em que o oiro-azul do céu se estrela:
Não sentes, vendo-o, nem pavores nem presságios...
E eu, pelo mar, vejo os espectros da procela,
E as naus sem norte, os precipícios, e os naufrágios...
Olhas a Vida... E ouves, da terra aos céus, o coro
Propiciatório de alegrias e noivado...
Dos céus à terra, eu sinto as suplicas e o choro
Dos prisioneiros, ofendidos, degradados...
Diante da Morte, unicamente, se alevanta
Minha alma em luz, serena e só, tranqüila e forte...
E, diante dela, o seu louvor sem frases canta...
Que é que tu sentes, meu Irmão, diante da Morte?
Cecília Meireles
In: Baladas para El-Rei (1925)
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Seja bem-vindo. Hoje é
Bonito este espaço, como é bonita toda a lírica de Cecília Meireles.
ResponderExcluirObrigada!