8 de abr. de 2009

Descrição



Há uma água clara que cai sobre pedras escuras

e que, só pelo som, deixa ver como é fria.

Há uma noite por onde passam grandes estrelas puras.

Há um pensamento esperando que se forme uma alegria.

Há um gesto acorrentado e uma voz sem coragem,

e um amor que não sabe onde é que anda o seu dia.

E a água cai, refletindo estrelas, céu, folhagem...

Cai para sempre!

E duas mãos nela mergulham com tristeza,

deixando um esplendor sobre a sua passagem.

(Porque existe um esplendor e uma inútil beleza

nessas mãos que desenham dentro da água sua viagem

para fora da natureza,

onde não chegará nunca esta água imprecisa,

que nasce e desliza, que nasce e desliza...)


Cecília Meireles

do livro Viagem 1.939

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