20 de abr. de 2009

Vaga Música


VAGA MÚSICA

Vaga música marcou definitivamente o clímax de sua carreira como escritora. A obra mostra sua poesia contínua que avança para uma virtuosidade implacável, com uma preocupação crescente com a imagem do mar, sugerindo a fluidez plástica e a adaptação de sua personalidade interna.

Uma das formas poéticas mais utilizadas em Vaga música é a da canção, o que vem indicado, à maneira antiga, já nos títulos: "Pequena canção da onda", "Canção da menina antiga", "Canção excêntrica", "Canção quase inquieta", "Canção do caminho", "Canções do mundo acabado", "Canção quase melancólica", "Canção de alta noite", "Canção mínima", entre muitas outras semelhantes.

Essa forma é na verdade largamente usada em toda a obra de Cecília Meireles, não constituindo uma peculiaridade apenas desse livro.

Note o poema seguinte extraído de Vaga música:

Pequena canção

Pássaro da lua,
que queres cantar,
nessa terra tua,
sem flor e sem mar?

Nem osso de ouvido
Pela terra tua.
Teu canto é perdido,
pássaro da lua...

Pássaro da lua,
por que estás aqui?
Nem a canção tua
precisa de ti!

No poema escolhido, algumas características da canção aparecem nitidamente: a forte atuação do som e do ritmo, a impregnação da realidade exterior pela emoção, o apagamento dos fatos, a indeterminação quanto ao tempo e ao espaço. Essas características se ligam intimamente. Assim, a musicalidade mais enfatizada na canção indica a fusão entre o eu e o mundo exterior. A alma invade o mundo objetivo, que aparece apenas como um reflexo daquela. Isso leva a um apagamento dos contornos da vida exterior e, conseqüentemente, a frases mais brandas, mais musicais, pois, mais do que definir um acontecimento, busca-se criar uma atmosfera emocional, para o que a música contribui fortemente. Esse relaxamento dos contornos implica também o relaxamento das noções de tempo e espaço, elementos sempre difíceis de precisar numa canção, que parece no mais das vezes se desenvolver no sem-tempo e no sem-espaço. É o sem-tempo e o sem-espaço da vida interior.

Site: passeiweb



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Cecília Meireles ingressou nas letras como uma escritora neo-simbolista, junto com alguns amigos poetas da revista Festa. Até depois de se afastar destes poetas, seus poemas ainda se relacionavam com fantasias, sonhos, solidão, padecimento, e melancolia. Seus poemas valorizam ainda coisas como símbolos, imagens sugestivas e constantes apelos visuais. Sua poesia manteve-se presa ao lirismo de tradição portuguesa. Herdando e ao mesmo tempo depurando a linguagem musical e cadenciada do simbolismo e seu lirismo transformaram em belos poemas a sua melancolia e o sentimento da saudade do tempo que passou. Concentrou sua sensibilidade poética na reflexão sobre a fugacidade da vida: a descrição real, a expressão sensorial, ou o questionamento do mundo material. Apresenta certa fixidez temática nas alusões ao espaço (privilégio do mar e da água). Profundo senso de solidão.
Suas características são: fuga para o sonho, preocupação com a falta de sentido da existência, ênfase à condição solidária do ser humano.

Alexandra Andrade

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