17 de dez. de 2009

Noite



Úmido gosto de terra,
cheiro de pedra lavada,
- tempo inseguro do tempo! –
sombra do flanco da serra,
nua e fria, sem mais nada.


Brilho de areias pisadas,
sabor de folhas mordidas,
- lábio da voz sem ventura! –
suspiro das madrugadas
sem coisas acontecidas.


A noite abria a frescura
dos campos todos molhados,
- sozinha, com o seu perfume! –
preparando a flor mais pura
com ares de todos os lados.


Bem que a vida estava quieta.
Mas passava o pensamento...
- de onde vinha aquela musica?
E era uma nuvem repleta,
entre as estrelas e o vento.



Cecília Meireles
In: Poesia Completa
Viagem (1939)

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