13 de fev. de 2011

Os dois lados do realejo


Pelo lado de cima,
o realejo é como um altar barroco,
de colunas douradas, flores grandiosas,
conchas crespas, abraço de volutas e fitas.


Pelo lado de cima,
o realejo é um pátio mágico,
onde cantam os pássaros e jorram os repuxos,
com requebros de dança
e festas de amor.


E das altas janelas voam para o realejo
pequenas moedas cintilantes,
libélulas douradas,
borboletas de prata,
pedacinhos de sol
gravitando na musica.


Do lado de baixo, a rodar a manivela,
há um homem sem emprego,
que alegra a rua.
mas tem os olhos graves.


Uns olhos que viram rios de sangue
em redor daquelas casas.
Rios de guerra,
onde boiou sua gente fuzilada e sem culpa.



Cecília Meireles
In: Poesia Completa
Viagem (1939)

Um comentário:

  1. Nao connhecia esse poema da Cecilia...

    o que me chamou a atençao, para que eu lesse o poema, foi dois lados do realejo, um bom outro ruim...o lado bom é obvio é o aspecto ludico; já o lado ruim eu nao havia pensado, e concordo, "...um homem sem emprego...olhos graves...".

    Cecilia meireles eu gosto, e realejo tbem que tem mta beleza como como circo e parques de diversoes.

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