30 de mar. de 2011

As valsas


Como se desfazem as valsas
por longos pianos aéreos
que a noite envolve em suas chuvas!
Que ternura nas nossas pálpebras,
pelo exílio suave dos gestos
e dos perfis de antigas musicas!


Os marfins opacos recordam,
com uma graça desiludida,
a aura da morta formosura.
Gente de sonho, sem memória,
entrelaçada, conduzida
por salões de esperanças e duvida.


E eram tão leves, nessas valsas!
E levavam lagrimas entre
seus colares e suas luvas!
E falavam de suas magoas,
valsando, e delicadamente,
com a voz presa e as pestanas úmidas!


Ah, tão longe, tão longe, as salas...
Levados os lustres as vidas,
o amor triste, a humildade loucura...
Ficaram apenas as valsas,
girando cegas e sozinhas,
sem os habitantes da musica!



Cecília Meireles
In: Retrato Natural

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