13 de ago. de 2012

'EMIGRANTES'


Esperemos o embarque, irmão.


Chegamos sem esperança,
só com relíquias de séculos
na palma da mão.


Pela terra endurecida,
não há campo que aproveite.
Mesmo os rios vão morrendo
pela solidão.


Não sofras por teres vindo.
Alguém nos mandou de longe
para ver como ficava
um rosto humano banhado
de desilusão.


Olhemos esses desertos
onde é impossível deixar-se
mesmo o coração.


Ah, guardemos nossos olhos
duráveis como as estrelas
e seguramente secos
como as pedras do chão:


Iremos a outros lugares,
onde talvez haja tempo,
misericórdia, viventes,
amor, ocasião.


Esperemos, esperemos.
Relógios além das nuvens
moem as horas e as lágrimas
para a salvação.



Cecilia Meireles
In: Retrato Natural

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