17 de out. de 2013

SURDINA



Quem toca piano sobre a chuva,
na tarde turva e despovoada?
De que antiga, límpida música
recebo a lembrança apagada?

Minha vida, numa poltrona
jaz diante da janela aberta.
Vejo árvores, nuvens, - é a longa
rota do tempo, descoberta.

Entre os meus olhos descansados
e os meus descansados ouvidos,
alguém colhe com dedos calmos
ramos de som,descoloridos.

A chuva interfere na música.
Tocam tão longe! O turvo dia
mistura piano, árvore, nuvens,
séculos de melancolia...


Cecília Meireles
In Flor de Poemas, 1972

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