9 de nov. de 2013

Entre mil dores palpitava a flor antiga



Entre mil dores palpitava a flor antiga,
quando o tempo anunciava um suspiro do vento.
Cada seta de sombra era um sinal de morte.

Lento orvalho embebeu de um consante silêncio
o manso labirinto em que a abelha sussurra,
o aroma de veludo em seus bosques perdido.

Hoje, um céu de cristal protege a flor imóvel.
Não se sabe se é morta e parada em beleza,
ou viva e acostumada às condições da morte.

Mas o vento que passa é um passante longíquo:
à flor antiga não perturba o exato rosto
sem esperanças nem temores nem certezas.

Pálido mundo só de memória.


Cecilia Meireles
In Solombra






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