O carneirinho que em sonho
pousa as mãos delicadas
sobre o meu coração:
é o de Blake? é o de Cristo?
Ou o de São João?
Com voz humana fala,
mais que a dos homens humana:
diz que tem fome de pão.
(Oh! A que pão se refere?)
E beija-me na mão.
E eu me sinto pastora
em campo sem horizonte.
Meu campo é só lagrima e resignação.
Que te posso dar, carneirinho meigo
de Blake, de Cristo ou de São João?
Viveremos de fome,
de uma fome encantada
do espírito do ar e do chão.
Em fome nos transcendermos,
ininteligíveis na vigília, irmão.
Conversaremos em sonho,
tão simples e sobre-humanos,
numa inviolável comunicação.
Pasceremos símbolos, bailaremos glorias
por tempos sem fim de perdão.
1960
Cecília Meireles
In: Poesia Completa
Sonhos (1950-1963)
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