7 de jul. de 2014

Felizes os que podem mover facilmente os olhos, sem os ver transbordar



Felizes os que podem mover facilmente os olhos, sem os ver transbordar,
oh! abrir e fechar as pálpebras de mil modos,
refletir as variedades do mundo,
revelar as ramagens múltiplas e delicadas da alma
- levemente.


Eu, do coração para cima sou toda lagrimas:
qualquer movimento abala esta secreta arquitetura,
qualquer pequeno descuido pode derramar este oceano
sempre crescente.


Felizes as folhas que o vento da sua carga de orvalho.
Felizes.
Mas o Anjo repete-me sobre cada passo do ponteiro:
“Sustenta a agonia para sempre intacta!”


Para sempre a sustento.


Agosto, 1955



Cecília Meireles
In: Poesia Completa
Dispersos (1918-1964)

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Muito grata por seu comentário, ele é muito importante para nós!

Seja bem-vindo. Hoje é